terça-feira, 21 de agosto de 2012
RESUMOS DE ALGUNS ROMANCES DA 2ª FASE MODERNISTA ( PARTE 3 de 3)
9 - A BAGACEIRA - JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA
O marco inicial da
segunda fase do Modernismo brasileiro é considerado o lançamento do romance A
Bagaceira, de José Américo de Almeida, em 1928. Inaugura o ciclo do “romance
nordestino” dos anos 30.
O enredo baseia-se no
êxodo da seca de 1898, descrito como "(...) Uma ressurreição de cemitérios
antigos - esqueletos redivivos, com o aspecto e o fedor das covas
podres.(...)".
Obra-prima do romance
regionalista moderno, hoje com trinta e duas edições em língua portuguesa,
edição crítica e versões em espanhol, francês, inglês e esperanto. Sua obra,
com dezessete títulos, abriga ainda ensaios, oratória, crônica, memórias e
poesia.
A história se passa
entre 1898 e 1915, os dois períodos de seca.
Tangidos pelo sol
implacável, Valentim Pereira, sua filha Soledade e o afilhado Pirunga abandonam
a fazenda do Bondó, na zona do sertão. Encaminham-se para as regiões dos
engenhos, no rejo, onde encontram acolhida no engenho Marzagão, de propriedade
de Dagoberto Marçau, cuja mulher falecera por ocasião do nascimento do único
filho, Lúcio.
Passando as férias no
engenho, Lúcio conhece Soledade, e por ela se apaixona. O estudante retorna à
academia e quando de novo volta, em férias, à companhia do pai, toma
conhecimento de que Valentim Pereira se encontra preso por ter assassinado o
feitor Manuel Broca, suposto sedutor e amante de Soledade. Lúcio, já advogado,
resolve defender Valentim e informa o pai do seu propósito: casar-se com
Soledade. Dagoberto não aceita a decisão do filho. Tudo é esclarecido: Soledade
é prima de Lúcio, e Dagoberto foi quem realmente a seduziu. Pirunga, tomando
conhecimento dos fatos, comunica ao padrinho (Valentim) e este lhe pede, sob
juramento, velar pelo senhor do engenho (Dagoberto), até que ele possa executar
o seu "dever": matar o verdadeiro sedutor de sua filha. Em seguida,
Soledade e Dagoberto, acompanhados por Pirunga, deixam o engenho e se dirigem
para a fazenda do Bondó. Cavalgando pelos tabuleiros da fazenda, Pirunga
provoca a morte do senhor do engenho Marzagão, herdado por Lúcio, com a morte
do pai.
Em 1915, por outro
período de seca, Soledade, já com a beleza destruída pelo tempo, vai ao
encontro de Lúcio, para lhe entregar o filho, fruto do seu amor com Dagoberto.
PERSONAGENS:
ü Dagoberto Marçau - Proprietário do engenho
Marzagão, simboliza a prepotência, contrapondo-se à fraqueza dos
trabalhadores da bagaceira. Considera-se "dono " da justiça e seu
código é simples: "O que está na terra é da terra". Se ele é
o senhor da terra, tudo que nela dá é da terra (ou seja, dele próprio).
"Se ele é o senhor da terra, tudo que nela se encontra lhe pertence, até os
próprios homens que trabalham no engenho. Assim pensa e assim age. Seduz
Soledade, vendo na sertaneja semelhança com sua ex-mulher.
ü Lúcio - Humano, idealista, sonhador, apaixona-se por
Soledade, com quem mantém um romance puro. Não compartilha as idéias de seu
pai, Dagoberto Marçau, para quem "hoje em dia não se guarda mais na
cabeça: só se deve guardar nas algibeiras. "Acreditava que se podia
desmontar a estrutura anacrônica do engenho: "Quanta energia mal
empregada na desorientação dos processos agrícolas! A falta de método
acarretava uma precariedade responsável pelos apertos da população misérrima. A
gleba inesgotável era aviltada por essa prostração econômica. A
mediania do senhor rural e a ralé faminta".
ü Soledade - Filha de Valentim Pereira, representa a beleza
agreste do sertão. Aos olhos de Lúcio, a sertaneja. "não correspondia pela
harmonia dos caracteres às exigências do seu sentimento do tipo humano.
Mas, não sabia por que, achava-lhe um sainete novo na feminilidade indefinível.
As linhas físicas não seriam tão puras. Mas o todo picante tinha o sabor
esquisito que se requintava em certa desproporção dos contornos e, notadamente,
no centro petulante dos olhos originais."... "Era o tipo modelar de
uma raça selecionada, sem mescla, na mais sadia consanguinidade."A
presença da sertaneja no engenho colocará uma barreira ainda maior entre
Dagoberto e Lúcio. Por Soledade Valentim se torna assassino e Pirunga
causa a morte do senhor de engenho.
ü Valentim Pereira - Representa o sertão: destemido,
arrojado e altivo. Como bom sertanejo pune pela honra de uma mulher, mata o
feitor Manuel Broca, apontado como sedutor de sua filha. Mas a "ideia
fixa da honra sertaneja" vai além: a cicatriz que lhe marcava o rosto era
resultado de uma briga mortal com um amigo, que desonrara uma moça, neta
de um "velhinho", de quem o tempo quebrara as forças. O diálogo entre
Valentim e Brandão de Batalaia (assim se chamava o "velhinho")
é bem ilustrativo: "Que é que vossamecê manda? Ele respondeu que só
queria era morrer. Eu ajuntei: E por que não quer matar?...”
ü Pirunga
- Filho de criação de Valentim Pereira, a quem tributa lealdade. Ama
Soledade, mas seu amor não encontra receptividade. Assim como Valentim,
simboliza o sertão: valente, intrépido, altivo... Por ocasião da festa no
rancho , vai em defesa de Latomia: enfrentando a polícia."O sertanejo
fazia frente a toda tropa na confusão do conflito corpo a corpo. Seu olhar
fuzilava na treva como um sabre desembainhado."
O relato abre o ciclo
do romance de 1930, entre outras razões por sua força de denúncia dos horrores
gerados pela seca.
É digno de nota o
prefácio que vale tanto ou mais do que próprio texto narrativo. Destaque para o
espanto do escritor face às mazelas: "Há uma miséria maior do que morrer
de fome no deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã."
Na narrativa há um
choque de três visões que correspondem
a três processos socioculturais
distintos:
1) Visão
rústica dos sertanejos, com seu sentido ético arcaico.
2) Visão
brutal e autoritária do senhor de engenho, representando a velha
oligarquia.
3) Visão
civilizada (moderna, urbana) de Lúcio, traduzindo um novo comportamento de
fundo burguês e
que logo seria autorizado pela Revolução de
30.
Significativo é o
projeto modernizador do personagem Lúcio ao assumir o comando do engenho:
alfabetização dos filhos dos trabalhadores, melhores condições de habitação,
etc. Ou seja, aquilo que Getúlio Vargas proporia nos anos seguintes como
alternativa para o país.
O livro apresenta uma
mistura (mal resolvida) de linguagem tradicional - dominada por um tom
desagradavelmente sentencioso - com um gosto modernista por elipses e imagens
soltas, e ainda pelo uso de algumas expressões coloquiais ou regionais.
Fora sua notável
importância histórica, A Bagaceira é um romance frustrado por causa do excesso
de análise sociológica. É como se a ânsia do autor em tudo explicar, destruísse
todo e qualquer efeito sugestivo da narrativa. Luís Costa Lima explicitou bem
esse defeito: " A falha central do novelista é a sua incapacidade de
ultrapassar o realismo mais primário."
10 - INCIDENTE EM
ANTARES → ÉRICO VERÍSSIMO
O último romance do escritor Érico Veríssimo, foi
publicado no ano de 1971. A obra, enquadrada no estilo modernista, é de cunho
político e está dividida em duas partes em que os acontecimentos reais se
misturam à ficção.
Na primeira
parte da obra, o autor nos apresenta a
fictícia cidade de Antares e as relações políticas entre as facções dos Campo
Largo e dos Vacariano até o dia do famoso incidente.
A cidade de Antares é um pequeno município do Rio
Grande do Sul que em sua concepção, em 1853, fora comandada por Chico Vacariano
até que um oponente, Anacleto Campo Largo, aparece para disputar o domínio do
feudo, dando origem à rivalidade entre as duas famílias por cerca de sete
décadas.
Com o passar do tempo e com o advento da modernidade,
na década de 30, a cidade recebe a vista de Getúlio Vargas que consegue aplacar
a rivalidade entre as duas famílias e consegue formar uma aliança entre eles.
Com o tempo, a cidade vai seguindo os
acontecimentos políticos: a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, inaugurando o
Estado Novo; a queda dele; o governo de Dutra; o retorno triunfante de Getúlio
em 1951; o atentado a Lacerda, combatente feroz de Getúlio; o suicídio de Getúlio;
a eleição de JK; a construção de Brasília; o governo de Jânio Quadros que fora
obrigado por forças terríveis a desistir do cargo, entre outros acontecimentos
da história brasileira até que, em 1963, ocorre o incidente mencionado no
título do livro.
Morrem na cidade, inesperadamente, sete pessoas
entre eles a matriarca da família dos Campolargo, mas os coveiros, estando em
greve, se recusam a enterrar os mortos que adquirem “vida” e passam a vasculhar
a vida de seus familiares e a apontar os defeitos e a podridão moral da
sociedade.
Os defuntos exigem que as autoridades os enterrem
em um prazo máximo de 24 horas ou prometem ficar a apodrecer no coreto da
cidade. Enquanto esperavam por uma resolução do governo, decidem visitar seus
amigos e parentes.
Na
segunda parte - Ao
meio dia, os mortos e os vivos se encontram na praça da cidade para discutir o
problema da greve e os mortos revelam os segredos sujos de todos da cidade.
Após um tremendo rebuliço, a greve termina, os mortos são finalmente enterrados
e a cidade decide negar e desmentir o incidente a todos os jornalistas que
procuram desvendar o que acontecera em Antares.
Por fim, a cidade segue seu curso e as “máscaras”
são gradativamente recolocadas.
11 - O TEMPO E O VENTO → ÉRICO VERÍSSIMO
Trata-se de um
conjunto de sete livros, que conta à história da formação do povo Rio Grande do
Sul, Érico Veríssimo de uma maneira original e fascinante mistura ficção com
fatos da realidade político e social do Brasil: como a guerra dos Farrapos, a
era Vargas, entre outros.
A obra divide-se em:
ü O Continente;
ü O Retrato;
ü O Arquipélago.
O CONTINENTE - A história remonta ao século XVII,
época da evangelização dos jesuítas, e o encontro de um índio, Pedro
Missioneiro, criado pelos padres jesuítas e Ana Terra, do encontro dos dois
nasce Pedro Terra. Ana Terra é obrigada a partir em caravana, quando
castelhanos invadem a fazenda da família, matam seu pai e irmãos e a violentam,
mas ela consegue esconder o filho, chegam então ao lugar que mais tarde se
tornaria a cidade de Santa Fé, onde se passa toda a trama. O romance passa-se
por várias gerações da família Terra, Cambará, Caré e Amaral, Pedro Terra
cresce e tem uma filha Bibiana Terra, que se casará com capitão Rodrigo
Cambará, moço muito bonito e galanteador, com espírito desbravador e
aventureiro, que morre em batalha.
O RETRATO- No início do século XX, Licurgo Terra
Cambará, e seus filhos Toríbio e Rodrigo vivem no Sobrado, a casa mais bonita e
famosa da cidade, o primeiro é homem rude e ama o campo, já Rodrigo gosta de
luxo e vai estudar medicina em Porto Alegre, de onde volta com todas as
novidades da época, como gramofone, vinhos, conservas, etc. Vive em conflito
com o pai que é homem conservador e não se deixa seduzir pela sofisticação do
mundo moderno. Rodrigo volta também com a ideia de exercer a profissão, se
casar, para esquecer a vida regada a mulheres e muito dinheiro que teve na
capital, quer se tornar “homem sério”, já seu irmão Toríbio vive de aventuras.
Rodrigo, bonito, vaidoso, e galanteador, mesmo depois de casado continua a ter
aventuras. No auge de sua mocidade, um amigo seu espanhol, pinta seu retrato em
tela gigante, que se torna sua uma espécie de ponto de reflexão e comparação
para Rodrigo, em todas as épocas de sua vida.
O ARQUIPÉLAGO- Rodrigo passa por várias fazes em sua
vida, após a morte da filha que mais adorava Alicinha, ele larga o ofício de
médico e vai para a carreira política, onde se envolve em negociações não muito
corretas, como troca de favores e tráfico de influências. No final de sua vida
ele já doente, e de cama, após um ataque no coração, não encontra o apoio em
sua família, sua esposa se quer dirige-lhe a palavra, arrasada e machucada após
as várias aventuras do marido, seus filhos não o admiram e não concordam com
seu tipo de vida, e estão mais interessados na herança. A história passa a ser
contada sob o ponto de vista de Floriano, filho de Rodrigo, que representa o
lado oposto do pai, reflexivo e tímido, vive o trauma de nunca ter tido a
admiração do pai, pelo fato de ter se acovardado na frente de um campo de
batalha. Fato que rebaixava o rapaz, por ter tido em seus antepassados grandes
guerreiros, e todos morridos em combate. E também sob o ponto de vista de
Silvia, agregada da família, que tem um amor platônico por Floriano, mas acaba
se casando com seu irmão, por conveniência, os dois tem uma vida infeliz e
vazia, e Silvia não consegue engravidar, para desgosto de todos.
O romance acaba com a
morte de Rodrigo e o fim de toda aquela geração, que já não seguiriam os passos
do pai. Encontramos nesta obra, romance, aventura e análises psicológicas
profundas que segundo informações são os questionamentos do autor diante de
seus conflitos com a família e a própria vida, no final o abraço entre Rodrigo
e Floriano, representa o perdão do próprio Érico ao pai e a si mesmo.
RESUMOS DE ALGUNS ROMANCES DA 2ª FASE MODERNISTA ( PARTE 2 de 3)
5 - GABRIELA CRAVO E CANELA
- JORGE AMADO
Modernismo de segunda fase Gabriela Cravo e
Canela é dividido em duas partes,
que são em si divididas em outras duas. A história começa em 1925, na cidade de
Ilhéus.
A primeira parte é Um Brasileiro das Arábias e sua
primeira divisão é O langor de Ofenísia. Vai centrando-se a história nesta
parte em dois personagens: Mundinho Falcão e Nacib. Mundinho é um jovem carioca
que emigrou para Ilhéus e lá enriqueceu como exportador e planeja acelerar o
desenvolvimento da cidade, melhorar os portos e derrubar Bastos, o inepto
governante. Nacib é um sírio ("turco é a mãe!") dono do bar Vesúvio,
que se vê em meio a uma grande tragédia pessoal: a cozinheira de seu partiu
para ir morar com o filho e ele precisa entregar um jantar para 30 pessoas em
comemoração a inauguração de uma linha automotiva regular para a cidade de
Itabuna. Ele encomenda com um par de gêmeas careiras, mas passa toda a parte
procurando por uma nova cozinheira.
No final desta pequena
parte aparece Gabriela, uma retirante que planeja estabelecer-se em Ilhéus como
cozinheira ou doméstica, apesar dos pedidos do amante que planeja ganhar
dinheiro plantando cacau.
A segunda secção desta primeira parte é A solidão de Glória
e passa-se apenas em um dia. O dia começa com o amanhecer de dois corpos na
praia, frutos de um crime passional (todo mundo dá razão ao marido traído /
assassino), segue com as preparações do jantar e a contratação de Gabriela por
Nacib. No jantar acirram-se as diferenças políticas e, na prática, declara-se a
guerra pelo poder em Ilhéus entre Mundinho Falcão (oposição) e os Bastos
(governo). Quando o jantar acaba (em paz), Nacib volta para casa e, quando ia
deixar um presente para Gabriela silenciosa mas não inocentemente, tem com ela
a primeira noite de amor / luxúria.
A segunda parte chama-se propriamente Gabriela
Cravo e Canela e sua primeira parte, o capítulo terceiro, chama-se O segredo de
Malvina.
O terceiro capítulo, passa-se cerca de
três meses após o fim do outro capítulo, e três problemas existem: o caso
Malvina-Josué-Glória-Rômulo, as complicações políticas e o ciúmes de Nacib.
Vamos pela ordem. Josué era admirador de Malvina, filha de um coronel com
espírito livre. Esta começa a namorar Rômulo, um engenheiro chamado por
Mundinho Falcão para estudar o caso da barra (que impedia que navios grandes
atracassem no porto de Ilhéus). Josué se desaponta e se interessa por Glória,
amante de um outro coronel. Rômulo foge após um escândalo feito pelo machista
(tão machista quanto o resto da sociedade ilheense) pai de Malvina, Malvina faz
planos de se libertar e Josué começa um caso em segredo com Glória. Na
política, acirra-se a disputa por votos ao ponto do coronel Bastos mandar
queimar toda uma tiragem do jornal de Mundinho. Mas Mundinho ganha terreno com
a chegada do engenheiro. E perde quando esse foge covarde. E ganha com a
promessa da chegada de dragas a Ilhéus. Nacib enquanto isso desenvolveu um caso
com Gabriela. Mas está sendo atacado pelos ciúmes (todos querem Gabriela,
perfume de cravo, cor de canela). Aos poucos ele percebe que é amor e acaba
propondo casamento a Gabriela após a última investida do juiz (alarme falso,
ele já havia desistido). Mas foi a tempo, já que até roças do poderoso cacau de
Ilhéus já haviam sido oferecidas a Gabriela. O capítulo acaba durante a festa
de casamento de Nacib e Gabriela (no civil, já que Nacib é muçulmano
não-praticante), quando chegam as dragas no porto de Ilhéus.
A quarta e última parte chama-se O luar de
Gabriela. Nesta resolvem-se todos os casos. Pela ordem: Josué e Glória
oficializam a relação e Glória é expulsa de sua casa por seu coronel. Na parte
da política, após o coronel Ramiro Bastos perder o apoio de Itabuna (e mandar
matar, sem sucesso, seu ex-aliado; o quase assassino foge com a ajuda de
Gabriela, que o conhecia), ele morre placidamente em seu sono, seus aliados
reconhecem que estavam errados (a lealdade era com o homem, não suas idéias) e
a guerra política acaba com Mundinho e seus candidatos vencedores. Quanto a Nacib
e Gabriela... Gabriela não se adapta de jeito nenhum à vida de "senhora
Saad", para desespero de Nacib. Nacib acaba anulando o casamento ao
pegá-la na cama com Tonico Bastos, seu padrinho de casamento. Mas ninguém ri de
Nacib; pelo contrário, Tonico é humilhado e sai da cidade, o casamento é
anulado sem complicações (os papéis de Gabriela eram falsos) e Gabriela sai de
casa. Nacib fica amargurado e vai se recuperando. As obras na barra se
completam com sucesso e Nacib e Mundinho abrem um restaurante juntos. O
cozinheiro chamado pelos dois é... convidado a se retirar da cidade por
admiradores de Gabriela, que acaba sendo recontratada por Nacib. Semanas
depois, Nacib e ela reiniciam seu caso, tão ardente como era no começo e
deixara e ser após o casamento.
Num epílogo, o
coronel, assassino dos dois amante da primeira parte, é condenado à prisão.
Cheio de uma crítica à sociedade ilheense, a própria linguagem do autor muda
quando foca-se a atenção em Gabriela. Torna-se mais cantada, mais típica da
região (como é a fala de todos), deixando a leitura cada vez mais saborosa.
6 - FOGO MORTO → JOSÉ LINS DO REGO
PERSONAGENS PRIMÁRIOS:
ü José Amaro: um dos protagonistas da obra, tem fama de
lobisomem;
ü Sinhá: mulher de José Amaro;Marta: filha de José Amaro;
ü Capitão Antônio Silvino: cangaceiro que Marta
apoiava;
ü Floripes: o negro;
ü Luís Cezar de Holanda: genro de Tomás
Cabral de Melo;
PERSONAGENS SECUNDÁRIOS:
ü Amélia - esposa de Coronel Lula
ü Adriana - esposa de Capitão Vitorino
ü Neném - filha de Coronel Lula
ü Luís - filho do Capitão Vitorino (o único em ascensão
social)
ü Tenente Maurício: opressor, comanda uma tropa de
facínoras.
ü Negro Passarinho: cantor ingênuo, escravo
recém-liberto, corroído pelo vício da bebida.
ü Coronel José Paulino: senhor de engenho
que se alia a todos os governos.
ü Cego Torquato: agente de ligação com Antônio
Silvino
ü Cabra Alípio: devotado de corpo e alma ao
cangaço
A narrativa faz parte
do ciclo-de-açúcar e é dividida em três partes, cada uma delas apresentando o
que acontece em torno de seus personagens principais: Mestre José Amaro, o
engenho de Seu Lula e o Capitão Vitorino Carneiro da Cunha.
A primeira parte enfoca principalmente a figura de
um velho seleiro frustrado - Mestre José Amaro. Chegou ao Engenho Santa Fé
trazido pelo pai, o velho Amaro; "homem valente que viera de Goiana, com
uma morte nas costas". Devido às andanças pela noite, Mestre José Amaro
ganha fama de lobisomem. Sustentavam que saía em busca de sangue. Culpa toda a
sua infelicidade na esposa, Sinhá, e na loucura da filha Marta. Apoiava o
cangaceiro Capitão Antônio Silvino, o único que levava justiça aos pobres e
colocava medo nos grandes. Devido a uma intriga com o negro Floripes, recebe
intimação de deixar a sua casa no Engenho Santa Fé. As brigas com o senhor de
engenho somam-se às desilusões com a própria profissão e com a vida familiar. A
mulher o abandona, a filha é levada para a Tamarineira. Não suportando as
frustrações e a solidão, Mestre José Amaro acaba por suicidar-se.
O engenho de seu Lula
é o título da segunda parte e
retrata a história do Engenho Santa Fé, erguido pelo capitão Tomás Cabral de
Melo. O engenho prosperava no pulso firme de trabalho do capitão. O seu genro
Luís César de Holanda Chacon, não gostava de trabalhar para a prosperidade do
engenho e só tinha ares aristocráticos e uma compulsão por rezas. O Santa Fé
entre em rápido declínio. Seu Lula maltratava os negros e após a abolição todos
se retiraram exceto o negro Macário.
A terceira parte tem por título o Capitão
Vitorino, compadre de Mestre Amaro e que até a segunda parte do romance era
visto apenas como motivo de zombaria. Falava mal de tudo e de todos que não
gostava, inclusive dos senhores de engenho. O mestre Amaro considerava-o
vagabundo e falador. Contudo, na terceira parte Vitorino é apresentado como
verdadeiro herói quixotesco, que vivia lutando e brigando por justiça e
igualdade, sempre em defesa dos humildes contra os poderosos da terra. Não
media consequência em desafiar as autoridades e até mesmo ao cangaceiro Antônio
Silvino. Falava o que pensava e sonhava com dia em que governasse.
É notável a habilidade
de José Lins do Rego em encadear as três partes narradas, que se direcionam
para mostrar a decadência do engenho e o que acontece com seus habitantes.
7 - MENINO DE ENGENHO → JOSÉ LINS DO REGO
Em Menino de Engenho,
temos a situação socioeconômica do engenho de açúcar que marcará a parte mais
significativa das produções de José Lins do Rego. As tensões sociais apontadas
pelo menino narrador-protagonista da história serão dinamizadas nos romances
posteriores, em especial em Fogo Morto. Outros temas de sua obra são aqui
indicados: o misticismo e a religiosidade populares, o cangaceirismo; a
atmosfera é de tristeza e de decadência.
Publicado em 1932,
Menino do Engenho é a estreia em romance de José Lins do Rego e já traz os
valores que o consagraram na Literatura Brasileira. O primeiro aspecto é a sua
filiação à Prosa Regionalista Modernista.
Durante a década de 30
do século XX, virou moda uma produção que se preocupava em apresentar a
realidade nordestina e os seus problemas, numa linguagem nova, introduzida
pelos participantes da Semana de Arte Moderna de 22. José Lins do Rego seria o
melhor representante dessa vertente, se certas qualidades suas não atenuassem
fortemente o tom crítico esperado na época.
A intenção do livro
afastou a visão político-social do romance. Nascido com a intenção de ser
memórias (o primeiro título de fato ia ser Memórias de um Menino de Engenho), o
autor está mais preocupado em reunir flashes do passado do que em produzir uma
análise aprofundada de sua realidade (essa técnica faz lembrar o estilo
impressionista de O Ateneu, de Raul Pompéia, romance que o próprio José do Lins
do Rego cita em Menino de Engenho. No entanto, as comparações só se tornarão
mais nítidas na sequência dessa obra, Doidinho). Dessa forma, tudo será
carregado de um saudosismo que tornará a obra melosa, sentimental, próxima da
idealização da realidade, muitas vezes até ingenuidade. É o que impossibilitará
o fôlego para uma crítica social mais efetiva.
Há quem enxergue nessa
inocência um ponto positivo para tornar a obra uma das mais brasileiras de
nossa literatura. Existe a ideia, real ou atribuída, de que nosso povo tem um
olhar afetivo sobre tudo, o que o torna submisso, passivo, avesso a protestos e
revoluções. Ideia questionável, mas interessante.
É o que de fato
enxergamos na atitude do seu narrador-protagonista. Talvez seu histórico
explique tais atitudes. Quando tinha quatro anos, seu pai, de forma passional,
acaba assassinando sua esposa, o que o faz ser preso e depois ser colocado num
hospício. Por causa disso, passa a ser criado pelo avô, José Paulino, senhor de
engenho.
Recebe todos os mimos,
pois é criança da cidade e vítima de tão gigantesco infortúnio. Pouco depois,
desenvolve “puxado” (asma), o que o torna mais vulnerável ainda. Somando-se à
saudade da mãe e do pai, e à maneira largada com que é criado (só tem atenção
mesmo da tia, que pouco depois se casa), acaba tornando-se uma criança
melancólica, que passa horas ensimesmada enquanto caça passarinhos em plena
solidão.
Em suma, tudo isso
contribui para que José Lins do Rego toque na realidade de maneira bastante
emotiva, o que camufla problemas graves. Percebemos isso principalmente na
idealização que faz do seu avô, José Paulino, um senhor do engenho, dono do
Santa Rosa (há quem entenda que um dos problemas está na narração em primeira
pessoa, muito utilizada pelo autor, o que torna sua visão limitada, graças à
subjetividade. Talvez isso explique por que seus melhores romances são Usina e
Fogo Morto, em que se usa a terceira pessoa, garantidora de objetividade, ou
seja, espírito crítico aguçado). Na sua visão infantil, não percebe que, como
riquíssimo proprietário, é um concentrador de terra e de renda, chegando a
achar natural a pobreza dos trabalhadores, não estabelecendo ligação entre os
dois fatos.
A inocência (a
inocência pode ser justificada pela fidelidade que o narrador manteve em
relação ao pensamento infantil. Há momentos em que ele chega a reconhecer as
falhas desse tipo de pensamento, demonstrando que, adulto, passou a desenvolver
mais criticidade. Mas não é um argumento que possa ser aplicado a todo momento
na obra) do protagonista é tamanha que doura a doença e a subnutrição das
famílias dos peões, considerando-os superiores, por mais resistentes, a ele
próprio.
Pode-se até perdoar o
relato da cheia destruidora e assassina como um motivo de festa. Criança
agita-se mesmo com tais mudanças de rotina. Ou até as descomposturas que o
senhor de engenho passava em seus empregados, mesmo o serviço estando
adiantado. Ou mesmo a submissão muda a que estes se submetiam diante do patrão.
Mas choca a apresentação de José Paulino como alguém que se intromete nas
atribuições do Estado. Tudo bem que resolva medicar seus escravos (cuida da
amputação do dedo de um deles) com a mesma medicina tosca com que tratava seus
familiares. Mas quando o avô parte para fazer justiça pelas próprias mãos, de
forma até violenta, ou influencia o Judiciário quando há julgamentos que envolvam
algum seu protegido, a característica de seu poder muda de figura. E o pior é
que o narrador, Carlos, ainda diz que seu avô era um santo que plantava cana.
Tudo isso contribui
para que José Lins do Rego crie toda uma crença de que o poder gerado pelos
senhores de engenho tornava o mundo melhor, talvez uma filosofia, como
amplamente demonstrada aqui, baseada numa idealização do passado. O problema é
o autor viveu numa época de transição da substituição do sistema do engenho
(método de produção de açúcar de cana de forma artesanal) para a usina
(produção industrial). Dessa forma, seu saudosismo é um canto para uma
sociedade que não existe mais.
Como se disse, se essa
emotividade compromete o olhar analítico do autor, que era exigido em sua
época, mantém uma presumida fidelidade ao jeito de ser brasileiro. Essa
criança, largada no engenho, passa sua infância entre brincadeiras com os
primos, os filhos dos empregados, ouve as conversas das negras na cozinha, além
das histórias fantásticas e folclóricas da Velha Totonha ou as que narravam os
feitos políticos, estas na boca do avô. Nosso país está aqui.
Em meio aos relatos do
cotidiano do engenho, suas festas e sua labuta, há espaço para a sexualização
precoce do protagonista, que se dá primeiro observando as coberturas dos
bovinos e equinos e depois presenciando (e quem sabe participando de)
bestialidades.
Nesse contexto, fica
até interessante a separação que tentará estabelecer entre seu histórico
lascivo, aumentado pelas masturbações provocadas pela Negra Luísa, e a paixão
que vai desenvolver por uma prima civilizada, de Recife, Maria Clara. Tenta
manter a menina longe da imagem sexual, mas sempre explodem em sonhos desejos
de forte, apesar de reprimida, conotação carnal.
Dessa forma, o
inevitável ocorre. Agarra-se em chamegos a Zefa Cajá, mulher que era caso de
quase todo mundo na região. Apesar das resistências dela, que alegava o menino
ainda cheirar a leite, acaba se deixando seduzir (provavelmente se faz de ser
comprada, graças ao tanto que ele furtava da casa grande para ela) e inicia-o
sexualmente. A consequência, mais ou menos esperada, é pegar doença venérea.
Torna-se então o
símbolo do menino perdido, apesar de bem visto por algumas pessoas, por
simbolizar um prodígio de masculinidade. Isso tudo apressa sua ida ao colégio
interno, o que acelera o final da narrativa, abrindo caminho para a próxima
obra, Doidinho.
8 - O QUINZE → RACHEL DE QUEIRÓS
→ PRIMEIRO PLANO - VICENTE E CONCEIÇÃO
O primeiro e mais
popular romance de Rachel de Queiroz é O Quinze. O título se refere a grande
seca de 1915, vivida pela escritora em sua infância. O romance se dá em dois
planos, um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação
afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima
culta e professora.
O enredo é
interessante, dramático, mostrando a realidade do Nordeste brasileiro. No interior
do Ceará, na fazenda Logradouro, perto de Quixadá, Conceição fora passar suas
férias com a avó, que chamava de mãe Nácia. Conceição não chegou em um momento
muito feliz, pois a seca estava forte, matando a vegetação e os animais.
Vicente, seu primo, que morava com seus pais e suas irmãs em outra fazenda,
fazia esforços sobre-humanos para que o gado conseguisse passar pela seca sem
que fosse preciso soltá-lo para que morresse longe, como muitos fazendeiros
faziam, devido ao desespero. Eles se amavam, mas Conceição estava em dúvida,
pois estava acostumada na cidade, havia estudado e Vicente não passava de um
fazendeiro semianalfabeto.
Conceição é
apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de
tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia -
representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na
fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não
dizia pensar em casar, mas sempre se "engraçava" à seu primo Vicente.
Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem.
Com o advento da seca,
a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo,
resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição,
trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes,
e descobre que seu primo estava "de caso" com "uma caboclinha
qualquer". Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia à consola dizendo:
"Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde hoje que o mundo é mundo... Eu
até acho os homens de hoje melhores."
Vicente se encontra
com Conceição e sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a
trata-lo de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender
a razão.
As irmã de Vicente
armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia. Ele porém se espanta
ao "saber" que estava namorando, dizendo que apenas era solícito para
com ela e não tinha a menor intenção de comprometimento.
Conceição percebe a
diferença de vida entre ela e seu primo e a quase impossibilidade de
comunicação. A seca termina e eles voltam para o Logradouro.
→ SEGUNDO PLANO - CHICO BENTO E SUA FAMÍLIA
Sem dúvida a parte
mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico
Bento com sua mulher e seus 5 filhos, representando os retirantes. Ele é
forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum dinheiro, compra
mantimentos e uma burra para atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar
no Norte, extraindo borracha.
No percurso, em
momento de grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crua,
envenenando-se. Agonizou até a morte. O seu fim está bem descrito nessa
passagem: "Lá se tinha
ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus
amarrados, feita pelo pai.
Ficou em paz. Não
tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de
miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra das mesma
cruz."
No Campo de
Concentração, Conceição reconhecia muitas famílias, que moravam perto da
fazenda de sua avó; um dia reconheceu seu compadre Chico Bento e sua família,
que depois do desespero passado conseguira chegar à cidade; um dos filhos
morreu envenenado, o outro desapareceu, sua mulher e o filho mais novo em
estado lastimável. Conceição com muita pena, depois de ajudá-los, ficou com seu
afilhado, que estava muito doente; tratou-o com carinho e conseguiu que ele se
salvasse. Depois de muito desespero, muita fome, crimes cometidos, muito
horror, choveu no Ceará.
Uma cena marcante na
vida do vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono.
Este o chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes
apenas as tripas para saciarem. Léguas após, Chico Bento dá falta do seu filho
mais velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde supunha que ele pudesse ser
encontrado, avista um compadre que era o delegado. Recebem alguns mantimentos
mas não é possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o menino tinha fugido
com comboeiros de cachaça. Notem:
"Talvez fosse até
para a felicidade do menino. Onde poderia estar em maior desgraça do que
ficando com o pai?"
Ao chegarem no campo
de concentração, são reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um
emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem
também uma passagem de trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar
com a borracha.
O mais famoso livro de
Rachel de Queiroz é mediano com alguns bons momentos.
RESUMOS DE ALGUNS ROMANCES DA 2ª FASE MODERNISTA ( PARTE 1 de 3)
1 - SÃO BERNARDO → GRACILIANO RAMOS
Paulo
Honório era um pobre homem do sertão. Aprendera a ler na cadeia quando o
companheiro de cela lhe ensinou usando a bíblia. Trabalhara na enxada e, depois
da prisão, queria ganhar dinheiro, não pensava mais na mulher que lhe causara a
prisão, aprendeu matemática para não ser roubado. Percorria o sertão fazendo
pequenos negócios. De alguns lugares partiu para não voltar devido a
malandragens das negociatas. Instalou-se em Alagoas, planejava tomar pra si a
terra onde trabalhara na enxada. O ex-patrão vivera em economias para fazer do
filho, Luís, doutor; acabou morrendo e o filho não seguiu a profissão. Paulo se
vez amigo dele e em pouco tempo já tinha lhe emprestado dinheiro, a propriedade
estava um lixo. Luís não tinha como pagar a dívida e foi assim que, para
quitá-la, Paulo o fez entregar as terras de São Bernardo a ele. Logo teve
problemas com o vizinho Mendonça que teimava em andar com os limites de sua
terra. Porém, logo ele morreu e novas fronteiras foram estabelecidas. Paulo
iniciara vários projetos nas suas terras. Tinha a mineração, as galinhas, o
gado, as terras cultivadas. Tornara-se um homem importante. Tinha influência e
emprestava dinheiro. Certa vez, justamente por recusar um empréstimo, teve no
jornal uma nota o chamando de assassino, uma insinuação à morte de Mendonça.
Paulo reagiu com agressividade, pois não tinha nada a ver com o fato, depois
tudo foi apaziguado. Com a visita de um governador a São Bernardo e seus
questionamentos acerca do por que da ausência de uma escola nas terras, Paulo
mandou que uma fosse erguida e Luís foi contratado como professor. Recebia
muito pouco, mas Paulo não tratava bem seus empregados, muito menos se
preocupava com salários justos. Depois de certo tempo veio nele a ideia de se
casar. Era preciso ter um herdeiro. Foi assim que cortejou Madalena, uma
professora da escola normal. O casamento nunca correu bem. Junto com Madalena veio
sua tia, Madalena tinha ideia de certa forma socialista. Paulo, no entanto, era
autoritário e não se interessava pela pobreza dos trabalhadores. Madalena
engravidou e teve um menino. A pobre criança não era amada pelos pais e vivia
solta na fazenda. Nesse tempo um ciúme cegou Paulo que acreditava que a esposa
mantinha casos com todos os homens. Ao mesmo tempo se sentia um bruto
impossível de ser amado por ela. A situação se tornou tensa dentro da casa. Ele
detestava a tia de Madalena e muitas vezes ela dormia a chorar. Já Paulo
passava as noites em claro em meio a suas dúvidas. Foi nesse contexto que
Madalena acabou se suicidando. Daí para frente as coisas desandaram na fazenda.
A tia de Madalena resolveu ir embora e Paulo deu a ela os ordenados que ficara
devendo a sua esposa. Logo as produções feitas em São Bernardo perderam o
valor. A pedreira estava fechada há um bom tempo, os bens cultivados não eram
colhidos, pois não valia a pena o trabalho de colhê-los para depois vender ao
preço absurdo que se achava na hora da venda. E os animais que eram criados
morriam e se escasseavam aos poucos. Paulo Honório ficou então a terminar de
escrever o livro que iniciara onde narrava a sua vida, não tendo nem mesmo o
filho, já que por ele não tinha amor.
2 -
VIDAS SECAS →
GRACILIANO RAMOS
Com a
chegada da seca no sertão, Fabiano e sua esposa Sinhá Vitória, os dois filhos,
o papagaio e a cachorra Baleia foram forçados a mudar. Caminharam por uma longa
jornada na terrível seca. Antes que morressem de fome comeram o papagaio,
seguindo a viagem o menino mais velho desmaiou, seguiram carregando o pequeno,
foi assim que encontraram uma fazenda abandonada onde se instalaram. A seca
acabou e Fabiano se acertou com o dono da fazenda. Era o vaqueiro daquela
terra, logo houve uma ressurreição em todos e tudo. Os meninos, a cadela, Sinhá
Vitória e o próprio Fabiano engordaram, na fazenda criaram porcos e bois.
Em um
dia Fabiano foi até a cidade comprar o que faltava em casa, antes de ir embora
resolveu tomar um copo de cachaça, se sentia por todos enganado acreditando que
sempre lhe cobravam mais do que era certo, assim como o patrão que sempre lhe
pagava menos com a história dos juros. Foi ai que um soldado amarelo apareceu e
o chamou para um jogo de cartas, como o homem era autoridade, aceitou, mas logo
após a primeira rodada foi embora. O soldado lhe seguiu o perturbando até que
Fabiano enraivecido xingou a mãe dele. Com isso foi para cadeia. A ignorância
que a pobreza lhe causara não permitiu que ele se explicasse e assim ganhou uma
surra e uma noite na prisão. Mesmo assim a vida melhorara, Sinhá Vitória
acreditava que para a felicidade ser praticamente completa bastava uma cama de
verdade diferente daquela que possuíam, feita de varas que os incomodavam
durante o sono. Os meninos apenas se divertiam no barreiro junto com a cachorra
Baleia. O mais novo em uma tentativa de imitar o pai tentou montar um bode o
que só lhe deu uma queda e humilhação por parte do irmão e de Baleia. E o
menino mais novo, buscando o significado de inferno, apenas ficou chateado com
a má vontade que lhe explicaram. O inverno chegou e a família se acalentava
frente à fogueira onde travavam pequenas conversas primárias. O natal também
chegou e com isto toda a família vestida de roupas novas que só lhes
incomodavam foi à missa, tanta gente os assustava e com a lembrança nunca
esquecida da injustiça aprontada pelo soldado amarelo, Fabiano bebeu e saiu a
desafiar os homens. Acabou deitado na calçada tirando um cochilo, enquanto
Sinhá Vitória fumava e os filhos brigavam com Baleia por ter desaparecido. Depois
desses tempos Baleia adoeceu. Feridas apareceram, o pelo caiu e ela emagreceu.
Fabiano decidiu matá-la de forma rápida que lhe poupasse o sofrimento. Sinhá
Vitória se trancou com os filhos e tampou-lhes os ouvidos. Fabiano com um tiro
feriu o traseiro da cachorrinha que assustada se arrastou até os juazeiros onde
sem compreender morreu. Certo dia caminhando pela catinga Fabiano se encontrou
com o soldado amarelo que nunca esquecera. Precipitou-se erguendo o facão, mas
parou antes de ferir o homem. Viu como ele era um frouxo já que nem se
aguentava de tanto tremer. Ficaram frente a frente até que o soldado viu que
Fabiano recuara, perguntou-lhe o caminho, Fabiano respondeu tirando o chapéu. As
trapaças do patrão o perturbavam e as contas de Sinhá Vitória sempre mostravam
que eles estavam sendo enganados, mas quando foi reclamar o patrão se encheu de
fúria e disse que ele podia ir embora, Fabiano perdeu o emprego. Fabiano desculpou-se
e foi embora. Nesse contexto a seca voltava.
O
bebedouro secava, o rio também, vinham ainda dezenas de pássaros que bebiam o
pouco de água que restava aos bichos que emagreciam. Fabiano matava-os, mas
eram muitos. Os que ele matava salgavam e guardavam. A seca chegou. Fabiano
sabia que era hora de partir, de fugir, mas adiava. Foi então que matou o único
bezerro que lhes pertenciam e salgaram junto a carne dos pássaros, trancaram a fazenda
e partiram. Sem avisar. Fabiano se atormentava com as lembranças: o soldado
amarelo, a cachorra Baleia, o cavalo que ficou pra morrer já que pertencia ao
patrão e ele não podia levá-lo. Mas depois começaram a conversar e as léguas
passaram sem nem verem, almoçaram e as esperanças de encontrar uma terra nova onde
os filhos teriam futuros diferentes e eles um presente mais digno onde não
precisariam fugir da seca, os levou embora.
3 - CAPITÃES DA AREIA → JORGE AMADO
PERSONAGENS:
ü Dalva: prostituta conquistada por Gato;
ü Dora: a primeira capitã de
areia;
ü Gato: malandro;
ü João Grande: o bom negro, segundo no comando
(apenas atrás de Pedro Bala);
ü Padre José Pedro: único que se relaciona com os
Capitães de Areia;
ü Pedro Bala: líder do grupo, de cabelos compridos e loiros;
ü Pirulito: tem grande tendência religiosa;
ü Professor: lê e desenha vorazmente;
ü Querido-de-Deus: um capoeirista amigo do grupo;
ü Sem-pernas: o garoto que serve de espião;
Os Capitães da Areia
nos conta sobre um grupo de meninos de rua. O livro é dividido em
três partes. Antes delas, no entanto, via uma sequência de pseudo-reportagens,
explica-se que os “Capitães da Areia” é
um grupo de menores abandonados e
marginalizados, que aterrorizam Salvador. Os únicos que se relacionam com eles
são Padre José Pedro e uma mãe-de-santo. O Reformatório é um antro de
crueldades e a polícia caçam-nos como os adultos.
A primeira parte em si, conta algumas histórias
quase independentes sobre alguns dos principais Capitães da Areia (o grupo
chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado, mas tinha líderes). Pedro
Bala, o líder, de longos cabelos loiros e uma cicatriz no rosto.
Uma espécie de pai para os garotos, mesmo sendo tão jovem
quanto os outros, e depois descobre ser filho de um
líder sindical morto durante uma greve.
Volta Seca, afilhado de Lampião, que tem ódio
das autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro; Professor, que lê e desenha
vorazmente, sendo muito talentoso; Gato, que com seu jeito
malandro acaba conquistando uma prostituta, Dalva;
Sem-Pernas, o garoto coxo que serve
de espião se fingindo de órfão desamparado (e numa das casas que vai é
bem acolhido, mas trai a família ainda assim, mesmo sem querer fazê-lo de
verdade). João Grande, o "negro bom" como diz Pedro
Bala, segundo em comando; Querido-de-Deus
um capoeirista que é só amigo do grupo; e
Pirulito, que tem grande fervor religioso. O ápice da primeira
parte vem em duas partes: quando os meninos se envolvem com um
carrossel mambembe que chegou na cidade, e exercem sua meninice; e
quando a varíola ataca a cidade e
acaba matando um deles, mesmo com Padre José Pedro
tentando ajudá-los e se encrencando por isso.
A segunda parte, "Noite da Grande Paz, da
Grande Paz dos teus olhos", surge uma história de amor quando a menina
Dora torna-se a primeira "Capitã da Areia", e mesmo que inicialmente
os garotos tentem tomá-la a força, ela se torna como mãe e irmã
para todos. (O homossexualismo é comum no grupo, mesmo que em dado momento
Pedro Bala tente impedi-lo de continuar). Mas Professor e Pedro
bala se apaixonam por ela, e Dora se apaixona por Pedro Bala.
Quando Pedro e ela são capturados (ela em pouco tempo passa a
roubar como um dos meninos), eles são muito castigados,
respectivamente no Reformatório e no Orfanato. Quando
escapam, muito enfraquecidos, se amam pela
primeira vez na praia e ela morre, marcando o começo do
fim para os principais membros do grupo.
"Canção
da Bahia, Canção da Liberdade",
a terceira parte, vai nos mostrando
a desintegração dos líderes. Sem-Pernas se mata
antes de ser capturado pela polícia que odeia.
Professor parte
para o RJ para se
tornar um pintor de sucesso, entristecido com a morte de
Dora. Gato se torna um malandro de verdade, abandonando
eventualmente sua amante Dalva, e passando por Ilhéus; Pirulito se torna frade;
Padre José Pedro finalmente consegue uma paróquia no
interior, e vai para lá ajudar os desgarrados do rebanho do Sertão; Volta Seca
se torna um cangaceiro do grupo de Lampião e mata mais
de 60 soldados antes de ser capturado e
condenado; João Grande torna-se marinheiro; Querido-de-Deus
continua sua vida de capoeirista e malandro; Pedro Bala, cada vez mais
fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, vai se
envolvendo com os doqueiros e finalmente os Capitães da Areia ajudam numa
greve. Pedro Bala abandona a liderança do grupo, mas antes
os transforma numa espécie de grupo de choque. Assim Pedro Bala deixa de ser o
líder dos Capitães de Areia e se torna um líder revolucionário comunista.
4 - DONA FLOR E SEUS DOIS
MARIDOS - JORGE AMADO
Modernismo de segunda
fase. A história é dividida em 5 partes (cada uma aberta por uma lição de
culinária de Flor, que é professora desta arte, com exceção da quarta parte,
aberta por um programa para o concerto de Teodoro) e um intervalo.
A primeira parte começa com a morte de Vadinho em
pleno Domingo de Carnaval. Vestido de baiana, Vadinho cai enquanto dançava e
seu funeral é muito concorrido. Nele voltam as lembranças de todos sobre o
falecido: os amigos de farra, as possíveis (prováveis) amantes, os conhecidos e
principalmente da esposa, Flor. Flor lembra do marido infiel, cheio de lábia,
espertalhão, jogador e malicioso que era Vadinho, mas ainda assim extremamente
adorável. Na definição de um dos presentes no funeral, Vadinho "Era um
porreta".
O anteriormente
referido intervalo se trata da discussão que ocorreu na cidade sobre a autoria
da elegia a Vadinho, poesia anônima picante.
A segunda parte passa-se durante o período de
luto de Flor. Inconsolável com a morte de Vadinho, sua mãe volta para a cidade
e a situação piora. Dona Rosilda é o mais perfeito modelo de sogra: odeia o
genro, é chata, controladora, exibida e pretende sempre escalar na vida social.
Passa a fazer intriga sobre o falecido ("era morte para festa") com
várias beatas, enquanto algumas poucas defendem Vadinho (não seus atos) por ele
ser uma pessoa excepcional (no sentido de incomum, não o de maravilhoso ou com
deficiência mental). Assim em flashback é mais detalhado o passado do casal. A
mãe de Flor queria que as filhas se casassem com homens ricos, e Vadinho
apareceu. Eles se conheceram numa festa chique (Vadinho entrou de penetra, com
a ajuda do tio) e começaram o namoro com a benção de Dona Rosilda, até que ela
descobriu quem era o genro. Mais tarde Flor sai de casa e se casa (de azul,
porque não teve coragem de por o branco) e começa o casamento. Vadinho é um
marido ausente, sempre gastando o dinheiro (dos outros) no jogo e nas mulheres.
Certa vez Flor quase adotou um menino que ela achava ser filho de Vadinho (Flor
é estéril; o filho era do "xará"). E assim são mostrados os vários
acontecimentos, em flashback, da vida matrimonial com aquele adorável
cafajeste, generoso gastador, infiel e amantíssimo marido que era Vadinho. O
capítulo acaba com Flor pondo flores sobre o túmulo do falecido, superando
melhor o passamento dele.
A terceira parte é passada nos meses seguintes.
Flor está mais alegre, apesar de manter ainda a fachada de viúva. Todas as
beatas competem para achar-lhe um bom pretendente e quem aparece é Eduardo, o
Príncipe, calhorda que enganava viúvas para roubar-lhes as economias.
Descoberto, Flor passa a se retrair. Seu sono torna-se mais agitado, seu desejo
cresce na medida em que ela deixa os homens fora de sua vida pessoal. Mas então
o farmacêutico Teodoro Madureira, respeitado solteirão (ele ficara solteiro
para cuidar da mãe paralítica, que morreu pouco antes), ele propõe casamento a
Dona Flor e eles tem o mais casto dos noivados, nunca ficando juntos sozinhos.
O capítulo acaba com o casamento de Flor, desta vez aprovado por sua mãe (que
havia saído da cidade no começo do capítulo; nem as outras beatas aguentavam
Dona Rozilda).
A quarta parte começa com a lua-de-mel de Dona
Flor. Teodoro é diferente do falecido em tudo. Fiel (não compreende mesmo
quando uma cliente da farmácia levanta o vestido BEM alto para tentá-lo),
regular (sexo às quartas e sábados, bis aos sábados e facultativo às quartas) e
inteligente, Teodoro trás a paz de volta à vida de Dona Flor. Teodoro toca
fagote numa orquestra de amadores e o maestro compõem uma linda música para ela
que Teodoro toca solo (o convite abre o capítulo) e no dia do aniversário de
casamento, após os convidados partirem Flor vê Vadinho, nu como o viu na cama
no dia de sua morte, a puxá-la e tentá-la. Ela se recusa naquele momento, fiel
ao marido. Teodoro vai dormir e Vadinho sai logo depois, quando Flor ia
procurá-lo. Começa aqui a parte do livro que o deixou famoso: Flor, Teodoro e
Vadinho, vivendo em matrimônio ao mesmo tempo, Vadinho nu, invisível a todos
menos Flor.
A quinta parte, que tornou famoso livro, filme,
seriado e tantas quanto foram as adaptações desta obra, começa com o Vadinho
vindo de volta dos mortos, tentando Flor. Flor sente-se dividida entre o esposo
atual e Vadinho, mas este diz-lhe que não há por que o estar: são colegas,
casados frente ao juiz e ao padre. Flor vai aos poucos perdendo a resistência e
chega a encomendar um trabalho para mandar Vadinho de volta para onde estava.
Enquanto isso se passa Vadinho vai manipulando as mesas de jogo, favorecendo
velhos amigos, levando Pellanchi Moulas, rei do jogo em Salvador, ao desespero
e a todos os "místicos" da Bahia para se livrar do azar. Vadinho só
para quando seus amigos cansam (Mirandão, companheiro seu quando era vivo, para
de jogar definitivamente, assustado com o repetir de vezes que caía nº 17,
número de sorte de Vadinho). Por fim Dona Flor sucumbe a Vadinho e passam a
viver harmoniosamente os três uma vida conjugal (mesmo que Teodoro não o
saiba). Vadinho chega a fazer o milagre de expulsar a sogra quando ela chega de
mala e cuia para ficar. Vadinho começa então a desaparecer e Flor se dá conta
de que era por causa do feitiço por ela encomendado. Há uma batalha entre
vários deuses contra Exu (identificado por alguns como sendo o diabo católico),
que protege Vadinho. Quando Exu estava perdendo, o amor e a volúpia de Vadinho
ganham a batalha.
A obra acaba com Flor
andando feliz com Teodoro e Vadinho (nu, como sempre) ao seu lado, pelas ruas
de Salvador.
Esta parte acentua
duas características gerais da obra: a religiosidade que mistura ao mesmo tempo
o catolicismo e o candomblé, pondo todas as figuras míticas das duas religiões
junto e eficientemente simultâneas (algo como é a religiosidade baiana, já que
Salvador tem mais igrejas que qualquer outra cidade do Brasil e ainda assim é
centro das religiões de origem africana). A outra característica vem a ser o
fato de que Vadinho e Teodoro são metáforas para o id e o superego,
respectivamente. Vadinho é rebelde, impulsivo, espontâneo e dado ao caos (no seu
caso, o jogo); Teodoro é metódico e controlado ("Um lugar para cada coisa
e cada coisa em seu lugar" é seu lema, pendurado na farmácia). Assim, a
imagem de Flor pacificamente com os dois, totalmente feliz, invoca o ideal de
equilíbrio entre os dois.
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