terça-feira, 21 de agosto de 2012

RESUMOS DE ALGUNS ROMANCES DA 2ª FASE MODERNISTA ( PARTE 3 de 3)


9 - A BAGACEIRA - JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA 

O marco inicial da segunda fase do Modernismo brasileiro é considerado o lançamento do romance A Bagaceira, de José Américo de Almeida, em 1928. Inaugura o ciclo do “romance nordestino” dos anos 30.
O enredo baseia-se no êxodo da seca de 1898, descrito como "(...) Uma ressurreição de cemitérios antigos - esqueletos redivivos, com o aspecto e o fedor das covas podres.(...)".   
Obra-prima do romance regionalista moderno, hoje com trinta e duas edições em língua portuguesa, edição crítica e versões em espanhol, francês, inglês e esperanto. Sua obra, com dezessete títulos, abriga ainda ensaios, oratória, crônica, memórias e poesia.
A história se passa entre 1898 e 1915, os dois períodos de seca.
Tangidos pelo sol implacável, Valentim Pereira, sua filha Soledade e o afilhado Pirunga abandonam a fazenda do Bondó, na zona do sertão. Encaminham-se para as regiões dos engenhos, no rejo, onde encontram acolhida no engenho Marzagão, de propriedade de Dagoberto Marçau, cuja mulher falecera por ocasião do nascimento do único filho, Lúcio.
Passando as férias no engenho, Lúcio conhece Soledade, e por ela se apaixona. O estudante retorna à academia e quando de novo volta, em férias, à companhia do pai, toma conhecimento de que Valentim Pereira se encontra preso por ter assassinado o feitor Manuel Broca, suposto sedutor e amante de Soledade. Lúcio, já advogado, resolve defender Valentim e informa o pai do seu propósito: casar-se com Soledade. Dagoberto não aceita a decisão do filho. Tudo é esclarecido: Soledade é prima de Lúcio, e Dagoberto foi quem realmente a seduziu. Pirunga, tomando conhecimento dos fatos, comunica ao padrinho (Valentim) e este lhe pede, sob juramento, velar pelo senhor do engenho (Dagoberto), até que ele possa executar o seu "dever": matar o verdadeiro sedutor de sua filha. Em seguida, Soledade e Dagoberto, acompanhados por Pirunga, deixam o engenho e se dirigem para a fazenda do Bondó. Cavalgando pelos tabuleiros da fazenda, Pirunga provoca a morte do senhor do engenho Marzagão, herdado por Lúcio, com a morte do pai.
Em 1915, por outro período de seca, Soledade, já com a beleza destruída pelo tempo, vai ao encontro de Lúcio, para lhe entregar o filho, fruto do seu amor com Dagoberto.

PERSONAGENS:

ü  Dagoberto Marçau - Proprietário do engenho Marzagão, simboliza a prepotência,  contrapondo-se à fraqueza dos trabalhadores da bagaceira. Considera-se "dono " da justiça e seu código é simples: "O que está na terra é da terra". Se ele é o senhor da terra, tudo que nela dá é da terra (ou seja, dele próprio). "Se ele é o senhor da terra, tudo que nela se encontra lhe pertence, até os próprios homens que trabalham no engenho. Assim pensa e assim age. Seduz  Soledade, vendo  na sertaneja semelhança com sua ex-mulher.

ü  Lúcio - Humano, idealista, sonhador, apaixona-se por Soledade, com quem mantém um romance puro. Não compartilha as idéias de seu pai, Dagoberto Marçau, para quem "hoje em dia não se guarda mais na cabeça: só se deve guardar nas algibeiras. "Acreditava que  se podia desmontar a estrutura anacrônica do engenho: "Quanta energia mal empregada na desorientação dos processos agrícolas!  A falta de método acarretava uma precariedade responsável pelos apertos da população misérrima. A gleba inesgotável era aviltada  por essa prostração  econômica. A mediania do senhor rural e a ralé faminta".

ü  Soledade - Filha de Valentim Pereira, representa a beleza agreste do sertão. Aos olhos de Lúcio, a sertaneja. "não correspondia pela harmonia dos caracteres às exigências do seu  sentimento do tipo humano. Mas, não sabia por que, achava-lhe um sainete novo na feminilidade indefinível. As linhas físicas não seriam tão puras. Mas o todo picante tinha o sabor esquisito que se requintava em certa desproporção dos contornos e, notadamente, no centro petulante dos olhos originais."... "Era o tipo modelar de uma raça selecionada, sem mescla, na mais sadia consanguinidade."A presença da sertaneja no engenho colocará uma barreira ainda maior entre Dagoberto e Lúcio. Por  Soledade Valentim se torna assassino e Pirunga causa a morte do senhor de engenho.

ü  Valentim Pereira - Representa o sertão: destemido, arrojado e altivo. Como bom sertanejo pune pela honra de uma mulher, mata o feitor Manuel Broca, apontado como sedutor de sua filha. Mas a  "ideia fixa da honra sertaneja" vai além: a cicatriz que lhe marcava o rosto era resultado de uma briga mortal com um amigo, que desonrara uma  moça, neta de um "velhinho", de quem o tempo quebrara as forças. O diálogo entre Valentim e Brandão de Batalaia (assim se chamava o "velhinho")  é bem ilustrativo: "Que é que vossamecê manda? Ele respondeu que só queria era morrer. Eu ajuntei: E por  que não quer matar?...”

ü   Pirunga - Filho de criação de Valentim Pereira, a quem tributa lealdade. Ama Soledade, mas seu amor não encontra receptividade. Assim como Valentim, simboliza o sertão: valente, intrépido, altivo... Por ocasião da festa no rancho , vai em defesa de Latomia: enfrentando a polícia."O sertanejo fazia frente a toda tropa na confusão do conflito corpo a corpo. Seu olhar fuzilava na treva como um sabre desembainhado."

O relato abre o ciclo do romance de 1930, entre outras razões por sua força de denúncia dos horrores gerados pela seca.
É digno de nota o prefácio que vale tanto ou mais do que próprio texto narrativo. Destaque para o espanto do escritor face às mazelas: "Há uma miséria maior do que morrer de fome no deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã."

Na narrativa há um choque de três visões que correspondem a três processos socioculturais distintos:

1) Visão rústica dos sertanejos, com seu sentido ético arcaico.
2) Visão brutal e autoritária do senhor de engenho, representando a velha oligarquia.
3) Visão civilizada (moderna, urbana) de Lúcio, traduzindo um novo comportamento de fundo burguês e
    que logo seria autorizado pela Revolução de 30.

Significativo é o projeto modernizador do personagem Lúcio ao assumir o comando do engenho: alfabetização dos filhos dos trabalhadores, melhores condições de habitação, etc. Ou seja, aquilo que Getúlio Vargas proporia nos anos seguintes como alternativa para o país.
O livro apresenta uma mistura (mal resolvida) de linguagem tradicional - dominada por um tom desagradavelmente sentencioso - com um gosto modernista por elipses e imagens soltas, e ainda pelo uso de algumas expressões coloquiais ou regionais.
Fora sua notável importância histórica, A Bagaceira é um romance frustrado por causa do excesso de análise sociológica. É como se a ânsia do autor em tudo explicar, destruísse todo e qualquer efeito sugestivo da narrativa. Luís Costa Lima explicitou bem esse defeito: " A falha central do novelista é a sua incapacidade de ultrapassar o realismo mais primário."

10 - INCIDENTE EM ANTARES ÉRICO VERÍSSIMO


O último romance do escritor Érico Veríssimo, foi publicado no ano de 1971. A obra, enquadrada no estilo modernista, é de cunho político e está dividida em duas partes em que os acontecimentos reais se misturam à ficção.

Na primeira parte da obra, o autor nos apresenta a fictícia cidade de Antares e as relações políticas entre as facções dos Campo Largo e dos Vacariano até o dia do famoso incidente.
A cidade de Antares é um pequeno município do Rio Grande do Sul que em sua concepção, em 1853, fora comandada por Chico Vacariano até que um oponente, Anacleto Campo Largo, aparece para disputar o domínio do feudo, dando origem à rivalidade entre as duas famílias por cerca de sete décadas.
Com o passar do tempo e com o advento da modernidade, na década de 30, a cidade recebe a vista de Getúlio Vargas que consegue aplacar a rivalidade entre as duas famílias e consegue formar uma aliança entre eles.
Com o tempo, a cidade vai seguindo os acontecimentos políticos: a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, inaugurando o Estado Novo; a queda dele; o governo de Dutra; o retorno triunfante de Getúlio em 1951; o atentado a Lacerda, combatente feroz de Getúlio; o suicídio de Getúlio; a eleição de JK; a construção de Brasília; o governo de Jânio Quadros que fora obrigado por forças terríveis a desistir do cargo, entre outros acontecimentos da história brasileira até que, em 1963, ocorre o incidente mencionado no título do livro.
Morrem na cidade, inesperadamente, sete pessoas entre eles a matriarca da família dos Campolargo, mas os coveiros, estando em greve, se recusam a enterrar os mortos que adquirem “vida” e passam a vasculhar a vida de seus familiares e a apontar os defeitos e a podridão moral da sociedade.
Os defuntos exigem que as autoridades os enterrem em um prazo máximo de 24 horas ou prometem ficar a apodrecer no coreto da cidade. Enquanto esperavam por uma resolução do governo, decidem visitar seus amigos e parentes.

Na segunda parte - Ao meio dia, os mortos e os vivos se encontram na praça da cidade para discutir o problema da greve e os mortos revelam os segredos sujos de todos da cidade. Após um tremendo rebuliço, a greve termina, os mortos são finalmente enterrados e a cidade decide negar e desmentir o incidente a todos os jornalistas que procuram desvendar o que acontecera em Antares.
Por fim, a cidade segue seu curso e as “máscaras” são gradativamente recolocadas.

11 - O TEMPO E O VENTO ÉRICO VERÍSSIMO

Trata-se de um conjunto de sete livros, que conta à história da formação do povo Rio Grande do Sul, Érico Veríssimo de uma maneira original e fascinante mistura ficção com fatos da realidade político e social do Brasil: como a guerra dos Farrapos, a era Vargas, entre outros.

A obra divide-se em:

ü  O Continente;
ü  O Retrato;
ü  O Arquipélago.


O CONTINENTE - A história remonta ao século XVII, época da evangelização dos jesuítas, e o encontro de um índio, Pedro Missioneiro, criado pelos padres jesuítas e Ana Terra, do encontro dos dois nasce Pedro Terra. Ana Terra é obrigada a partir em caravana, quando castelhanos invadem a fazenda da família, matam seu pai e irmãos e a violentam, mas ela consegue esconder o filho, chegam então ao lugar que mais tarde se tornaria a cidade de Santa Fé, onde se passa toda a trama. O romance passa-se por várias gerações da família Terra, Cambará, Caré e Amaral, Pedro Terra cresce e tem uma filha Bibiana Terra, que se casará com capitão Rodrigo Cambará, moço muito bonito e galanteador, com espírito desbravador e aventureiro, que morre em batalha.

O RETRATO- No início do século XX, Licurgo Terra Cambará, e seus filhos Toríbio e Rodrigo vivem no Sobrado, a casa mais bonita e famosa da cidade, o primeiro é homem rude e ama o campo, já Rodrigo gosta de luxo e vai estudar medicina em Porto Alegre, de onde volta com todas as novidades da época, como gramofone, vinhos, conservas, etc. Vive em conflito com o pai que é homem conservador e não se deixa seduzir pela sofisticação do mundo moderno. Rodrigo volta também com a ideia de exercer a profissão, se casar, para esquecer a vida regada a mulheres e muito dinheiro que teve na capital, quer se tornar “homem sério”, já seu irmão Toríbio vive de aventuras. Rodrigo, bonito, vaidoso, e galanteador, mesmo depois de casado continua a ter aventuras. No auge de sua mocidade, um amigo seu espanhol, pinta seu retrato em tela gigante, que se torna sua uma espécie de ponto de reflexão e comparação para Rodrigo, em todas as épocas de sua vida.

O ARQUIPÉLAGO- Rodrigo passa por várias fazes em sua vida, após a morte da filha que mais adorava Alicinha, ele larga o ofício de médico e vai para a carreira política, onde se envolve em negociações não muito corretas, como troca de favores e tráfico de influências. No final de sua vida ele já doente, e de cama, após um ataque no coração, não encontra o apoio em sua família, sua esposa se quer dirige-lhe a palavra, arrasada e machucada após as várias aventuras do marido, seus filhos não o admiram e não concordam com seu tipo de vida, e estão mais interessados na herança. A história passa a ser contada sob o ponto de vista de Floriano, filho de Rodrigo, que representa o lado oposto do pai, reflexivo e tímido, vive o trauma de nunca ter tido a admiração do pai, pelo fato de ter se acovardado na frente de um campo de batalha. Fato que rebaixava o rapaz, por ter tido em seus antepassados grandes guerreiros, e todos morridos em combate. E também sob o ponto de vista de Silvia, agregada da família, que tem um amor platônico por Floriano, mas acaba se casando com seu irmão, por conveniência, os dois tem uma vida infeliz e vazia, e Silvia não consegue engravidar, para desgosto de todos.

O romance acaba com a morte de Rodrigo e o fim de toda aquela geração, que já não seguiriam os passos do pai. Encontramos nesta obra, romance, aventura e análises psicológicas profundas que segundo informações são os questionamentos do autor diante de seus conflitos com a família e a própria vida, no final o abraço entre Rodrigo e Floriano, representa o perdão do próprio Érico ao pai e a si mesmo.






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